"- Muitas pessoas morreram, Valerie. Seu namorado, Nick, as matou. Você tem alguma ideia do porquê? - perguntou [Dr. Hieler]. (...)
A resposta parecia óbvia. Nick odiava aquelas pessoas. E elas também o odiavam. Era por isso. Ódio. Socos no peito. Apelidos. Risadas. Comentários depreciativos. Ser empurrado de encontro aos armários quando algum idiota metido passava. Eles o odiavam e ele os odiava e de algum modo acabou daquele jeito, com todo mundo morto." (p.92)
Ocorre um massacre orquestrado por Nick Levil no Colégio Garvin. Os policiais da cidade, a imprensa e escola viram os vídeos das câmeras de vigilância do colégio e perceberam uma determinação anormal vinda do assassino. Eles sentem que as vítimas pareceram ser escolhidas prévia e metodicamente. Mas qual é a origem dessa anormalidade? A Lista Negra, não tão velada agora, era um pequeno caderno onde Nick e sua namorada, Valerie, escreviam tudo o que odiavam no mundo: famílias-problema, colegas populares, lugares, músicas e principalmente, pessoas.
Continuaria a ser uma brincadeira entre o casal, um desabafo coletivo entre Nick e Val, se Nick não tivesse levado a Lista tão a sério. O tiroteio tem início na Praça de Alimentação do colégio onde ambos os jovens estudavam. Assim que o primeiro tiro é disparado, a instituição de ensino se transforma em um pandemônio: alunos correndo para longe daquele surtado e professores tentando guiar os jovens para algum local mais seguro. Valerie só se dá conta de que aquele inferno se relacionava à Lista Negra por ter percebido que as primeiras vítimas atingidas tinham seus nomes em rabiscados no pequeno caderno.
Após se colocar entre Nick e a garota mais popular da escola, que anteriormente fazia dela uma vítima de xingamentos, Valerie é atingida por um tiro na perna ao tentar acabar com aquele desespero. Nick não continua só porque atira em sua cabeça e morre instantaneamente. O livro é mesclado entre narração em 1ª pessoa por Valerie no presente, flashbacks e notícias do jornal local. A obra é fracionada em quatro partes e na minha opinião, a primeira foi onde eu mais sofri durante a leitura. Porque Val tenta retornar ao colégio com uma vida razoável, mas é abandonada por todos a quem ela considerava como amigo, o resto da escola a trata com extrema frieza acusando-a de ter "mandado" Nick abrir fogo nos colegas.
Admito que fiquei possesso/nervoso/estupefato/triste quando via que até OS PAIS odiavam estar envolvidos em tudo aquilo. Fui descobrindo que a mãe não era super protetora com a filha por protegê-la do mundo mas sim; proteger o mundo de se envolver com a filha "bandida" que segundo os pensamentos da mãe, se Val ficasse sozinha por algum curto período, não era impossível ela começar a matar as pessoas.
O pai é um vacilão à parte. Negligenciou a filha e não deu a ela chances de contar a sua versão da história distorcida pela mídia, não deu a Val possibilidades de dizer que também era uma vítima daquele ocorrido. Ted, o pai, apanas a culpava de tudo, culpando-a de trazer só problemas para a vida de todos. Além de tudo isso; a jovem tinha que suportar a tensão doméstica, um divórcio iminente que não tardaria a acontecer e lutar contra a saudade do lado bom do namorado, e ao longo da narrativa o leitor é capaz de perceber que Nick não era de todo mal, e era da parte benévola pela qual Valerie sentia falta.
Na época do lançamento do livro, as discussões sobre o bullying e as consequências das agressões ainda chegavam à tona no cenário mundial. Jennifer Brown trouxe uma reflexão muito pertinente e impactante sobre a sociedade em que vivemos: é realmente necessário que um jovem entre em uma escola e mate tantas pessoas para que o mundo se dê conta de que o bullying só acarreta consequências negativas? As pessoas não podem simplesmente se colocar no lugar do outro a fim de evitar ações drásticas como essa?
Recomendo pra caramba esse livro, na minha opinião é leitura obrigatória. Certamente é uma das melhores leituras do ano e da vida e apesar de já ter lido muitos livros com o bullying como plano de fundo, nenhum me atingiu tão profundamente quanto A Lista Negra. Incrível.
"- O tempo nunca acaba - sussurrou [Bea]. (...) Como sempre há tempo para dor, também há tempo para a cura. É claro que há." (p. 179)
Obrigado pela atenção!