sábado, 25 de julho de 2015

Resenha de "Objetos cortantes", por Gillian Flynn

O livro foi o romance de estreia de Flynn, a segunda obra da autora que eu li e publicada no Brasil.
Camille Preaker é uma jornalista de um desprestigiado jornal em Chicago e recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde ficou internada para tratar a tendência de automutilação que deixou seus resquícios em formas de cicatrizes no corpo da mulher.

"Às vezes acho que a doença mora dentro de toda mulher, esperando o melhor momento para florescer."

O seu chefe, Frank Curry, encarrega-a de elaborar uma matéria sobre dois assassinatos que ocorreram em Wind Gap, cidade natal de Camille. É preciso ter um pouco de estômago para lidar com a história das mortes, já que as vítimas foram duas garotinhas de 7 a 9 anos (salvo engano) que tiveram todos os seus dentes arrancados pelo autor dos crimes. A partir daí já se pode calcular a atmosfera tensa presente no livro.

Edição publicada pela Editora Instrínseca.


Porém, esse elemento não está apenas no modo em que as crianças foram trucidadas e também na história de vida da protagonista. Como o jornal em Chicago não tem muito sucesso e/ou recursos, Camille viajará até Wind Gap e se verá obrigada a se hospedar na casa da mãe psicótica, que vive com o padrasto de Preaker e a sua meia-irmã quase desconhecida. Desse modo, a mulher na linha dos 35 anos terá de encarar as memórias de sua adolescência e o passado em que viveu naquela casa, ambos tão macabros quanto os assassinatos na cidadezinha e as cicatrizes sob suas roupas.

"Só acho que algumas mulheres não nascem para ser mães. E algumas mulheres não nascem para ser filhas." 

Um dos traços marcantes na escrita de Gillian Flynn é a acidez usada para construir seus personagens e abordar os temas em seus livros. Ela não mede a brutalidade de suas palavras, que chegam aos leitores com um grande impacto. Outro ponto forte nos seus livros são as protagonistas. Pela segunda vez, conheci um personagem central problemático, que é uma pessoa a quem o contexto da criação familiar influenciou na vida e na maneira de ver o mundo. Muitos leitores vão se identificar com as protagonistas das histórias de Flynn, porque elas não são boas ou más, e sim, humanas.

Gillian Flynn, 44 anos.

"Uma criança criada com veneno considera dor um consolo."

"Todo mundo tem um momento em que a vida sai dos trilhos."

Gostei do título, muito sugestivo, que se refere aos dentes desenraizados das garotinhas e às lâminas que ferem Camille Preaker. Após a leitura de mais um livro dessa autora, eu reafirmo que Gillian Flynn é rainha um dos maiores destaques (se não O maior) da literatura contemporânea e recomendo muito a leitura de Objetos cortantes. 






domingo, 19 de julho de 2015

Resenha de "Morte súbita", por J.K. Rowling

A narrativa se passa no vilarejo fictício de Pagford, na Inglaterra. Nesse local há um Conselho Distrital, composto por membros que possuem uma posição importante na tomada de decisões para o futuro do vilarejo. O livro se inicia quando um dos membros do Conselho, Barry Fairbrother é acometido por um aneurisma e morre subitamente. Isso significa que há uma vacância (uma cadeira vaga, um lugar vazio) no Conselho, logo, algumas pessoas se candidatarão para ocupar o lugar de Fairbrother.


É classificado como um romance adulto, não focando apenas nas questões políticas de Pagford e explorando com afinco as questões sociais: vícios da população, violência doméstica, homofobia, drogas, racismo, prostituição, corrupção, bullying e hipocrisia. 


Ao longo da história é possível perceber que a morte de Fairbrother significa também a morte do altruísmo naquele lugar, o falecimento da esperança para a parcela da população que é pobre, mesmo que alguns personagens revelem que Barry Fairbrother não era tão santo. 
Rowling foi capaz de criar personagens verossimilhantes, o que significa que ao ler o livro eu quase conseguia vê-los na minha frente.


Achei bacana o modo como a morte do membro do Conselho Distrital interferiu na vida de TODOS os moradores do vilarejo e a maneira como a autora demonstrou maestria interligando a vida de todos os personagens. O início da narrativa é um pouco arrastado, porém não significa que a autora deixa de abordar os temas citados anteriormente. Depois, iniciam-se as rixas e a narrativa se torna fluida.
Novamente pude perceber que J.K. Rowling não teve sorte ao publicar Harry Potter e sim, talento para exercer o ofício da escrita.

"Ela [Krystal] soluçava cada vez mais forte. Poderia ter contado para o Sr. Fairbrother. Ele conheceu a realidade da vida." (p.429)

"É estranho como a nossa cabeça pode saber o que o coração se recusa a aceitar." (p.515)