segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Resenha de "Fale!", por Laurie Halsie Anderson

Melinda Sordino certamente é a aluna mais excluída do Colégio Merryweather. Depois de ter ligado para a polícia durante a tradicional festinha dos veteranos e ter feito vários colegas serem presos, é considerada a garota mais escrota da escola. É deixada de lado pelas amigas e isolada do resto do colégio. As pessoas não lhe dirigem mais palavras (xingos e ofensas, sim) ou lhe dão atenção. O que, de fato, ocorreu antes de Melinda ligar para a polícia na noite da festa faz com que ela opte pelo silêncio ao invés de falar a verdade?



Melinda sabe que os seus pais, omissos e negligentes, não têm realmente vontade de ouvir o que ela tem a dizer, se preocupando apenas com o progresso da filha na escola. Ela também tem conhecimento de que toda a propaganda de desabafar com os mais velhos e disposição das autoridades de ouvirem o que os jovens têm a dizer, é uma baboseira extrema; já que os adultos afirmam, na maioria das vezes, não terem tempo suficiente para "esquentar" a cabeça com um drama adolescente. 


"Aposto que [meus pais] já estariam separados, a esta altura, se eu não tivesse nascido. Tenho certeza de que fui a maior decepção. Não sou bonita, nem inteligente, nem atlética. Sou como o casal - um parasita comum envolto em segredos e mentiras." (p.88)

"Os meus pais ficam me fazendo perguntas do tipo 'O que há de errado com você?'. Como posso responder? Nem preciso. Eles não querem mesmo ouvir nada do que tenho a dizer." (p.106)

Assim, a protagonista de Fale! vai se fechando aos poucos, murchando como uma flor que carece de água e consequentemente, comprando os ingressos de entrada à depressão. Nas aulas de arte de Melinda é o único momento em que ela consegue se expressar, e com um professor sensato, ela aos poucos se abre para falar o que realmente aconteceu naquela maldita festa.


"É mais fácil não dizer nada. Fechar a matraca, passar o zíper, calar o bico. Toda aquela babaquice que você escuta na TV sobre se comunicar e expressar o que sente não passa de uma mentira. Ninguém quer realmente ouvir o que você tem a dizer." (p.22)

"Eu me olho no espelho do outro lado do quarto. Eca. (...) Saio da cama e tiro o espelho do lugar. Coloco no fundo do closet, virado para a parede." (p.30)


A narrativa é em 1ª pessoa, com uma narradora que mescla comentários sarcásticos a respeito de sua exclusão e descreve com seriedade as consequências do trauma da festa. São pouquíssimos os personagens legais (que na minha soma da um total de 2) por quem você gosta de ler os capítulos em que eles estão. 

"Eu sabia que não ia ser convidada, Teria sorte se fosse convidada para o meu próprio velório, com a minha fama." (p.56)


Fale! é um livro que deve ser discutido entre os jovens e também posso dizer que é uma leitura recomendadíssima. O acontecimento da festa não é o foco principal, visto que o objetivo da autora, acho eu, era mostrar aos leitores o impacto do acontecimento na vida da protagonista. Porém, ser ignorante em relação a essa revelação contribui na boa experiência da leitura, que deixa um suspense dentro do livro. No final de cada parte (em um total de 4), a autora "anexa" o boletim de Melinda: 

Boletim do final da parte 3
Após ler esse livro eu percebi que o meu desejo a todas as Melinda's do mundo, é o mesmo que o da autora: "que vocês sempre tenham a coragem de falar".






Nenhum comentário:

Postar um comentário